terça-feira, 26 de abril de 2011

13 de Abril 2011 - Dia da Montanha, por Cristina Ribeiro

13 de Abril 2011

Dia da Montanha

Dormi mal, como aliás tenho dormido todos estes dias devido à altitude e à tosse que não me larga desde Lisboa, e não me deixa descansar. Por entre o entre-cortado do sono, os receios de não conseguir, à mistura com imagens de montanhas com névoas escurecidas, tenebrosas.

A partida ficou marcada para as 7:45h (…) Mas com atrasos e mais atrasos saímos eram quase 08:30h. O tempo está nitidamente a aquecer mas quando saímos a porta do abrigo, uma lufada de vento cortante fez marcar a sua presença, lembrando a todos que a montanha estava lá… À nossa espera.

Apetrechados e cramponados partimos, contornando o abrigo por trás em direcção à pendente. A subida é lenta. Lenta e custosa. Por indicação do Jorge, o Carlos ia mesmo colado ao guia e o resto do grupo prosseguia em fila, atrás. E lá fomos subindo, subindo devagar, ainda sem os raios de sol lamberem a encosta.


De hora a hora, o guia parava e dizia: “Cinque minutes!” Estas pausas sabiam a pouco, mas eram fundamentais para retemperar forças, beber água, comer uma barrita ou uma mescla de frutos secos que o nosso guia Mohamed providenciava.

Depois lá voltávamos a subir, cravando com força os crampons na neve dura. O André ia marcando o ritmo da subida: “Estamos a 3.850mt, agora nos 3.957”, à medida que lia a altitude no seu relógio… Já se sentia o sol a bater forte, quando chegámos ao topo da vertente que marca a base do Toubkal. Alguém disse: “É logo ali…” Ainda faltava tanto.



Continuámos a subir, contornando a montanha, seguindo trilhos particularmente difíceis e apenas conhecidos dos guias, pois nada os distinguia, pelo coberto da neve. Para além disto,os crampons afundavam-se, pois o sol já derretia e tornava a neve mole e esburacada.

Numa passagem particularmente estreita, enterrei o pé esquerdo até ao joelho e caí. De repente, vejo-me a escorregar, de cabeça para baixo, pela vertente. Num ápice, o Jorge faz segurança escachado na vertente, com crampons e piolet, travando a minha queda no precipício.

Literalmente, salvou-me a vida.

Logo, logo, os guias estavam a travar a neve com os piolets e a retirarem-me e ao Jorge daquela posição.
Com o susto apercebi-me de tudo: da altitude, do precipício, do medo, do cansaço… De repente aquela montanha estava intransponível. “O que é que eu estava ali a fazer?” Eu nunca iria conseguir dar nem mais um passo!

Foi como um zombie que continuei e continuei até ao topo. Depois de contornar mais uma rochas, finalmente começamos a avistá-lo – o Topo, o Toubkal – ao fundo de uma alameda de neve. Como nos filmes em que seguimos por um corredor que não termina, assim segui eu por aquela alameda, passo, atrás de passo, atrás de passo, que não mais chegava ao fim, com o topo à vista, sem conseguir lá chegar.

Uma voz ao fundo dizia: “Vamos para cume… Vamos para cume”. Era o Jorge que filmava e incentivava a dar os últimos passos. E assim chegámos todos ao Topo e conseguimos, e abraçámo-nos e chorámos, todos juntos, e ultrapassámos as dificuldades e ultrapassámo-nos, todos juntos.


Depois foram as tradicionais fotos com bandeiras várias.
A Ana fez questão de levar a bandeira do Sporting.


Também lá estava a da loja Bivaque e a Nacional, claro!


A melhor de todas foi a da Mª da Luz. Da mochila tirou uma que dizia:
- INÊS, A MÃE CONSEGUIU.


Comemos uma bucha rápida, sandes de atum que os guias arranjaram; mas a vontade era nula. Chegámos ao topo por volta das 14:00, tínhamos apanhado ventos de rajada de 49 nós, mas agora era preciso partir, era preciso descer.


A descida foi penosa. A neve estava mole e era preciso enterrar bem os crampons para não escorregar, baixando o centro de gravidade e inclinando para trás.  Este movimento trabalha fortemente os joelhos e é muito cansativo. Mas como, “para baixo todos os santos ajudam” o Carlos que estava exausto, depois da conquista do cume lá se recompôs e partiu encordado com o Mohamed.


Com o meu receio de quedas fui ficando para trás, acompanhada pela Rita e pelo André. (…) Finalmente todos juntos fizemos este último troço, marcado pela neve fofa que nos fazia enterrar e nos dificultava os movimentos.



Estávamos a chegar ao refúgio já o sol se tinha posto e tinha começado a nevar uma neve dispersa e fria como a marcar o final da jornada. Tinham sido seis horas a subir e quatro a descer. “Que dia!”


Depois de retirados os apetrechos, foi com dificuldade que fomos comer o “almoço” que estava preparado para nós. Arrumámos as coisas e fomos todos descansar um pouco até ao jantar, que foi servido às 20:30h.
E finalmente fomos para a cama, depois de darmos notícia do feito à Sandra, para o blog, e aos outros amigos e queridos que nos acompanham à distancia. Merecíamos o nosso descanso, tinha sido uma grande jornada.

NOTA: Fotos da Cacilda

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