domingo, 3 de abril de 2011

Introdução ao Projecto “Subir o Toubkal”, por Jorge Ribeiro

As caminhadas de fim de semana, com mais de 20 kms de extensão e  mais de 6 horas de duração, semana após semana, por certo,  deixarão os caminheiros em condições físicas suficientes para se aventurarem numa actividade de Alta Montanha.

Mas os caminheiros pensam na próxima caminhada de fim de semana como o próximo desafio a vencer e, muitas vezes, acumulam kms e mais kms nas pernas, deixando que as caminhadas por cá se transformem nos seus objectivos maiores a atingir.

E ver gente valorosa a fazer mais de 1200 km/ano, com milhares de horas de preparação e não as ver subir, deixava-me a pensar...

E como dizia  Gedeão, "eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida, que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança" e importava trazer a dimensão do sonho e do chegar ao Mais Além, de que fala João Garcia.

E daí partiu a ideia de lançar junto deste companheiros o desafio de escalar o Jbel Toubkal, um magnífico Cume de 4.167m, num cenário de neve e gelo, que obrigasse a uma abordagem técnica, de progressão segura, em terrenos nevados e gelados.

A ideia era fazer a aproximação à Montanha, dar a formação técnica necessária à progressão em neve e gelo, com domínio na utilização de crampons e piolet e de autodetenções nestes cenários, possibilitando ao grupo o treino em formação e com uma actividade de subida com utilização das técnicas aprendidas ao Cume do Tizi n'Ouanaomuss (3.684m),  com uma  fabulosa vista sobre o Lac D'Ifini e o Tifnoute Valley, com descida e regresso ao Refúgio (3.204m).

Este desafio assim lançado aos companheiros obrigou-os a uma enorme reflexão sobre eles próprios e sobre as suas capacidades de se envolverem no sonho e no projecto.

Os dias e as noites foram passando e as inquietações vieram.

Vieram as dúvidas e as incertezas, mas veio também a ideia de que eram ou não capazes de vencer um Alto desafio. E muitos não conseguiram encontrar condições de tempo disponível, físicas, psicológicas ou financeiras que lhes possibilitassem aceitar o desafio.

Mas houve 10 bravos que disseram que sim! Disseram que eram capazes de partir, com ganas de vencer, à conquista do Cume.

Destes 10 amigos/companheiros, o Rocha e a Cristina tinham experiência de Alta Montanha, o André tinha experiência de Média Montanha e conhecimentos sólidos (académicos e práticos) de Alpinismo, situação esta que seria  fundamental para o enquadramento companheiros sem experiência nestas áreas.

E disseram que estavam dispostos a ajudar o restante Grupo - Cremilde, Cacilda, Maria, Rita, Ana,  António e Carlos a pensar e concretizar este desafio de Alta Montanha.

E, assim, por cá a actividade se começou a desenhar. Definida a Lista de Equipamento necessário para fazer face às condições que prevíamos encontrar na Montanha, foi possível suprir as falhas/faltas de equipamento.

E aqui será de destacar os nossos amigos da Bivaque e STrail, que se mostraram capazes de ajudar, conseguindo fornecer equipamento indispensável para a Expedição.

Também a ajuda e companheirismo dos amigos Manuel Cordeiro, Valentim, Luísa, Ricardo, Sandra  e Luís, que emprestaram material, tornou possível reunir o restante equipamento necessário para a concretização da nossa aventura. 

E com o desafio lançado o Grupo de 11 Bravos disse .... Sim!

A preparação em termos físicos estava feita e importava que o Grupo se fosse reunindo para que todas as pessoas se conhecessem entre si (vinham de grupos diferentes de caminhadas) e que fossem criando os laços de amizade e de solidariedade necessários a uma aventura em Alta Montanha.

O treino incidiu sobre a necessidade de se estar atento às nossas necessidades e às necessidades do Outro e de ser capaz de pedir ajuda ou de ajudar a superar uma dificuldade momentânea, não deixando que a mesma se instale e possa de algum modo tornar-se impeditiva do nosso sucesso e do sucesso do Grupo.

E a ideia passou e estas 11 pessoas partilharam pontos fortes e pontos fracos e começaram a formar um Grupo de Amigos e de Companheiros capaz de tomar decisões e de vencer os desafios que por cá se iam colocando nas actividades que formos realizando de preparação e treino.

E o Grupo tornou-se coeso, com um moral forte, parecendo-nos capaz de ultrapassar as dificuldades que sempre se colocam numa actividade em Alta Montanha.

Agora conhecemo-nos uns aos outros e sabemos que juntos somos muito mais fortes do que cada um por si.

Espero que a Montanha nos sorria e que nos faça sorrir, tornando-nos pessoas melhores, mais solidárias, mais capazes de resistir  e de fazer face às dificuldades da vida, com uma maior capacidade de sonhar. Sonhar Mais Alto e Mais Além.

E, ainda, mostrar a quem não veio que, da mesma forma que connosco caminham lado-a-lado, também eles serão capazes de deixar de sonhar com a caminhada do próximo fim de semana mais ou menos igual à anterior e passar a sonhar com um Cume de Alta Montanha.

Primeiro numa mais alta solidão - momento da decisão, depois no Ser capaz de dizer Sim ao Grupo, à Família e aos Outros.

E, finalmente, ser capaz de partir à conquista do nosso próprio Cume e disso dar conta… A Portugal e ao Mundo.

J.R.

Sem comentários:

Enviar um comentário