terça-feira, 26 de abril de 2011

14 de Abril – A caminho do Vale Encantado, por Cristina Ribeiro

14 de Abril

A Caminho do Vale Encantado

Acordámos todos bem dispostos. Tinha sido uma noite bem dormida com a certeza do feito. Tomámos o pequeno almoço por volta das 8:30 h, já com as bagagens preparadas para partir.

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Depois foi arrumar os últimos retoques e descer em direcção a Sidi Garamouche.

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Os nossos sacos foram novamente levados pelos jovens carregadores até ao local onde deixava de haver neve. A partir daí, esse trabalho seria feito pelas mulas.

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Estava uma manhã gloriosa. O vento da montanha era agora quase uma aragem, à medida que íamos descendo e a temperatura ia subindo. Ao princípio, a caminhada foi ainda com neve, mas aos poucos esta foi escasseando, até desaparecer.

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Aí retirámos os mini-crampons que tínhamos colocado para nos auxiliar a descida e continuámos descomprometidamente até à aldeia onde seria servido o almoço.

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Sidi  Garamouche desenvolve-se em pequenos socalcos, em ambas as vertentes, dividida por um rio de montanha que neste momento corre em cascata devido ao degelo. Foi este rio que viemos sempre a acompanhar, praticamente desde que deixámos o refúgio, e que marca a riqueza verde e exuberante de todo o vale.

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Mais uma vez nos foi servida uma refeição maravilhosa composta de salada com ovo sardinhas e atum, regada a chá de menta como é obrigatório.  As meninas deixaram-se tentar pelas compras de pulseiras e panos e a Ana conseguiu fazer negócio com barras de Ovomaltine e rebuçados de Café. Aqui troca-se tudo por tudo.

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Depois do almoço continuámos a descer pela encosta, a caminho do vale encantado, guiados pelo Mohamed.

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Os dois dias que tínhamos passado no refúgio  pareciam ter acentuado o aroma de primavera que pairava no ar e que tinha feito florescer ainda mais as árvores de fruto, que em certos locais criavam um manto branco a lembrar aquela lenda algarvia da princesa do norte e o seu príncipe mouro.

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O verde e branco do vale contrastava com o tom acastanhado, quase cinza agreste, das montanhas. Este troço foi feito lentamente para poder usufruir de toda esta beleza natural e tirar montes e montes de fotografias.

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Chegados à aldeia fomos recebidos pelas crianças que vinham da escola, aos pulos e aos saltos, e que engraçaram particularmente com o  Rocha, talvez pelo seu ar de Avô.

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A aldeia de Armed encavalita-se nas encostas sobranceiras ao rio (de que nunca cheguei a saber o nome) num troço em que este se alarga pelas torrentes de sedimentos de pedras e rochas trazidos nas cheias. É composta por um intrincado de pequenas  ruas que subimos até ao “Gite d’etape” ou seja até ao abrigo que não é outra coisa senão a casa de Abdul, irmão mais velho de Mohamed, com quem contratamos a viagem.

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Este abrigo, decorado com tapetes e motivos berberes parece tirado de um livro de viagens exóticas. As camaratas têm várias camas, postas umas ao lado das outras, separadas por mesas baixinhas com vasos floridos, e animados por uma profusão de cores onde predominam os tapetes vermelhos nas paredes e chão.

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Tomámos, finalmente, aquele banho retemperador que o corpo já pedia sequioso. O meu foi tão quente, tão quente, que devo ter queimado a pele para tirar o “lixo” acumulado de três dias. Havia duche no abrigo, mas as condições não era convidativas.

Partimos para uma visita guiada em que o Abdul  fez questão de nos mostrar a sua aldeia. Antes de partir para a montanha, em Imlil, tínhamos entregue alguns presentes e materiais escolares, para as crianças da aldeia, que tínhamos trazido de Portugal, por sugestão do Jorge.  Agora, ao longo desta visita, íamos encontrando crianças que mostravam encantadas as suas pequenas prendas, verdadeiros troféus, num mundo, já quase desconhecido para nós, em que as coisas têm outro significado, e  em que uma pequena dádiva, um pequeno nada, toma a dimensão de um feito e se transforma no sorriso feliz de uma criança.

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Durante a visita Abdul foi-nos mostrando os vários locais de interesse: a padaria, o Hammam, a Mesquita e mais abaixo, um local de refúgio para os ricos e poderosos se esconderem do mundo, um hotel de cinco estrelas, onde segundo ele chegam a pagar 900 euros por noite. Parece-me exagerado e uma forma de engrandecer a sua aldeia, mas sem dúvida que o local é mágico. 

Quando regressámos ao albergue, para nossa  grande surpresa, fomos presenteados pela equipa que nos acompanhou, com écharpes e colares para as mulheres e lenços para os homens. Delicadamente, Lassil e os outros rapazes foram colocando as écharpes com diferentes cores, escolhendo muito a preceito aquelas que combinavam melhor com cada rosto e cada personalidade. Também o arranjo do lenço era diferente de pessoa para pessoa; uns mais enrolados outros menos, uns a tapar a boca outros não.

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O jantar final foi espantoso. Serviram-nos Harira (a sopa local) Cous cous de Frango e Tagin de Borrego com ameixas e amêndoas. Estava excelente! E surpresa final, depois do jantar os nossos guias e carregadores, armados de tachos, travessas e panelas  a fazerem as vezes de “instrumentos tradicionais” vieram cantar para nós melopeias berberes.

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Depois também nós os brindámos com música tradicional portuguesa: fado, claro e “Alecrim aos molhos”.

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No final todos dançámos e fizemos a festa e demos a tradicional gorjeta ao cozinheiro e carregadores (125 €). 

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Como a querer prolongar um dia perfeito, antes de ir para a cama, fomos ficando recostados nos divans da varanda coberta do albergue, a ver a lua, as estrelas e os recortes distantes do Toubkal e a contar histórias de montanha, sonhando já com novas aventuras.

NOTA: Fotos de Cacilda e Jorge

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